Henrique de Albuquerque era um jovem escritor de 33 anos que morava na cidade de Belo Horizonte. Ele havia se formado em jornalismo há 12 anos, mas não conseguiu ir adiante na profissão. Era casado com Maria Regina e tinha um filho de sete anos, chamado Renato. Ele acabou não se realizando como escritor e fazia alguns bicos para sobreviver. Sua vida pessoal era pacata, simples, às vezes saia com alguns amigos para beber e se divertir.
Entretanto, na maioria das vezes ficava em casa com sua esposa. Henrique às vezes contava com a ajuda de seu pai, José de Albuquerque para conseguir pagar suas contas, como o aluguel e a gasolina de seu carro. Era uma vida difícil, já que ele não conseguia encontrar uma saída para seu problema financeiro e sua profissão.
Um dia Henrique teve uma notícia de que seu amigo Antônio havia falecido em sua residência vítima de um aneurisma. Foi um choque e tanto, já que os dois eram amigos antigos desde sua adolescência. O enterro seria no dia seguinte, no cemitério Parque da Colina. Ele iria rever seus antigos companheiros. Seria uma razão para celebrarem, mas o momento era de luto. Um de seus melhores amigos havia morrido e isso o deixou transtornado.
Henrique chegou cedo ao enterro de seu amigo Antônio. Ele seria enterrado às 10 horas da manhã e ainda eram oito horas. Havia muitas pessoas no funeral, cerca de 30, ao todo. Ele reconheceu vários de seus amigos de infância, o Bruno, João, Marcelo, Pedro, Felipe, a Kátia, Rosângela e Andréia. Mesmo com o luto pela perda de um de seus amigos, eles sorriram ao se encontrar.
Os amigos de Antônio e seus familiares ajudaram a levar o caixão até o alto de uma colina para ele ser enterrado. Seu irmão, Tadeu, fez um discurso lembrando dos momentos que passou ao seu lado. Várias pessoas choraram e se despediram do amigo falecido, jogando flores em seu túmulo. Ao final, Henrique se despediu de todos e decidiu dar uma volta pelo cemitério. Ele parou em frente a uma lápide e percebeu que havia uma carteira em cima dela. Ela era muito bonita, com um couro marrom que brilhava com a luz do sol. Henrique a pegou e a abriu, não havia nada em seu interior. Ele decidiu levá-la para casa.
Henrique chegou em casa depois do enterro, conversou um pouco com sua mulher e passou a tarde vendo televisão. Ele decidiu dormir cedo, queria procurar emprego no dia seguinte. A morte de seu amigo fez com que ele pensasse em seu futuro e no de sua família. Era o momento dele tomar uma atitude e mudar, arrumar um trabalho, algo que garantisse uma vida melhor para todos.
No dia seguinte, Henrique colocou seu melhor terno e se preparou para ir em busca de um emprego. Ao ver a carteira na mesinha do lado de sua cama, ele decidiu usá-la, colocar todos só seu documentos nela, já que era muito bonita. Ao abri-la, ele teve uma surpresa, encontrou cinco mil reais em notas de cem novinhas.Henrique perguntou a sua mulher se ela havia posto o dinheiro em sua carteira, mas ela respondeu que não. Ele então saiu de casa, não mais para procurar um emprego, ele foi direto ao proprietário de seu apartamento pagar o aluguel. Depois Henrique foi ao supermercado, a um shopping, e comprou suprimentos e presentes.
Passou um, dois, três dias e Henrique percebeu que sempre de manhã aparecia na carteira mais cinco mil reais. Ele ficou espantado, visto que era uma carteira de dinheiro mágica. Era tudo que precisava, estava rico, poderia comprar o que quisesse, mudar para um lugar melhor. A primeira coisa que fez foi comprar um carro para a sua esposa, que ficou bastante feliz.
Maria Regina estava entusiasmada com seu carro novo. Ela saia para passear todos os dias, indo na casa de seus pais e na de seus amigos. Além disso, com o dinheiro da carteira de Henrique, ela fazia compras para ela, seu marido e seu filho. Estava tudo indo bem até que um dia, ao passar pela avenida Atlântica, um caminhão cruzou seu caminho, destruindo seu carro e a matando.
Henrique e seu filho Renato ficaram transtornados com o ocorrido. Maria Regina estava morta e não havia nada que pudesse fazer. Após a tragédia, Henrique perdeu o contato com seus amigos e familiares, vivendo apenas ao lado de seu filho, comprando o que havia de melhor para ele. Porém, nada os fazia esquecer do falecimento daquela mulher que eles amavam tanto.
Todavia, Henrique então decidiu comprar uma outra casa, visto que aquela os fazia lembrar de Maria Regina. Os dois foram morar em um bairro mais afastado de Belo Horizonte, onde não seriam importunados. Henrique passava seus dias vendo televisão. Ele não conseguia mais escrever, só pensava em sua esposa e no seu falecimento. Renato ia para a escola, mas também estava muito triste.
A carteira mágica de Henrique continuava a dar dinheiro, mas para ele não servia de nada. Estava rico, mas sem sua amada esposa. Um dia o pior aconteceu. Renato, ao sair do ônibus de sua escola, viu um boné preto do outro lado da rua e decidiu ir ver o que era. O motorista até tentou avisar, mas no momento em que atravessava, passou uma moto e o atropelou, matando-o.
Henrique depois de perder sua esposa e filho passou a comprar cada vez mais coisas, entulhando sua casa com eletrodomésticos, eletrônicos, estátuas, quadros, móveis, enfim, tudo o que queria ter mas nunca pôde. A carteira dava todo o dinheiro que precisava, portanto ele não trabalhava. Entretanto, era uma vida infeliz, sombria.
Uma noite, quando chovia bastante fora de sua casa com trovões e uma grande ventania, Henrique sonhou que estava passeando no bosque que havia perto da sua residência. Ele viu dois olhos vermelhos, cor de sangue brilhando, chamando-o para seguí-lo. Indo adiante ele se deparou frente a frente com uma figura tenebrosa.
Aquilo parecia ser um demônio, um monstro que olhava para ele e dava gargalhadas. Henrique não sabia o que fazer, queria sair logo dali. Mas naquele pesadelo ele não conseguia movimentar suas pernas, estava paralisado. Foi quando a figura o olhou com seriedade e disse que a carteira mágica era dele. Aquele ser estranho disse a Henrique que a carteira mágica iria parar de dar dinheiro se ele não seguisse as suas instruções. Ele deveria jogar o sangue de um homem morto em cima dela para que aqueles milhares de reais continuassem a aparecer. Henrique ouviu com atenção, ele não ligava mais pra nada e acabou concordando.
Henrique seguiu as instruções daquele ser demoníaco durante dez anos. Ele chegou a matar mais de 200 pessoas. A carteira começou a dar muito mais dinheiro, o que possibilitou a ele comprar uma mansão ainda maior. Com o passar do tempo Henrique tomou gosto pelos assassinatos e se divertiu muito com isso. Durante todo esse tempo Henrique sonhava com aquele demônio que o agradecia pelo sangue na carteira mágica. Ele falava que sua missão estava cumprida. Henrique caçava durante à noite, em busca de mulheres e homens solitários, de forma que ninguém descobrisse rapidamente que eles foram assassinados.
A vida de Henrique era essa, caçar no período da noite, pelo menos duas vezes por semana, e ficar em casa vendo televisão. Ele gostava do dinheiro que ganhava, mas não tinha mais nada para comprar. Sua vida havia se transformado em um grande pesadelo e ele não conseguia se livrar dessa maldição.
Até que um dia Henrique olhou para a sua sala de estar com todas aquelas coisas entulhadas e decidiu arrumar, organizar todo o ambiente. Ele então encontrou no meio da bagunça, uma foto dele com sua esposa e filho. Henrique ficou a tarde toda olhando para aquela imagem. Ele chorou, gritou, ficou desnorteado. Henrique pegou a carteira mágica, olhou para ela, a jogou no chão e cuspiu em cima dela. Ele havia conquistado o mundo, tinha tudo que queria, menos os amores de sua vida, sua esposa e filho. Não havia mais nada para ele, aquilo não era um sonho, era uma maldição, que acabou com toda a sua vida.
Henrique passou a madrugada olhando para a carteira e chorando. Ele então foi até a garagem e pegou uma corda que havia comprado a alguns dias atrás. Henrique a jogou em uma madeira que segurava o telhado de sua mansão e se enforcou ali, sozinho, no meio da sala, sem ninguém, triste pelo fim de sua vida.O funeral de Henrique foi triste, seus amigos não estavam presentes. Seu corpo foi levado por trabalhadores do cemitério. Apenas uma mulher estava ali, Lídia, uma namorada de sua adolescência que ficara sabendo do ocorrido por ser amiga de um de seus vizinhos. Ao se despedir de seu antigo amigo, ela olhou para o lado de sua lápide e viu uma carteira nova, brilhante.
Ela a pegou e a levou para casa…