Código da morte

José Luiz de Oliveira era um jornalista da editoria de polícia do jornal de Belo Horizonte, Folha de Minas Gerais. Era o ano de 1995, antes da internet modificar o modo como as pessoas lêem as notícias. Nesta época, o jornal estava em franca expansão e ele era um dos profissionais mais requisitados. De fato, José se dava muito bem com os policiais da cidade e possuía algumas características que poderiam torná-lo um grande detetive.

Era uma terça feira do mês de julho. Como era inverno, fazia muito frio na cidade de Belo Horizonte. José trabalhava apressado em uma matéria sobre um sequestro na cidade de Contagem, que fazia parte da região metropolitana. Ele estava quase terminando a matéria quando recebeu uma ligação do Tenente Osvaldo Cardoso, um policial com quem mantinha contato e que sempre informava a ele alguns acontecimentos que geravam importantes matérias para o jornal.

Era sete horas da noite, quando o policial ligou para ele. José foi chamado para ir até o bairro Belvedere, pois havia acontecido um assassinanto em uma das mansões mais luxuosas do lugar. O jornalista acabou sua matéria, passou ela para seu editor e pegou seu carro. Poderia ser a chance de ter em suas mãos um furo jornalístico, visto que o casal assassinado se tratava de Estéfano e Glória de Albuquerque, personalidades conhecidas da alta sociedade de Belo Horizonte.José chegou na mansão rapidamente, o trânsito neste horário era melhor, já que estava fora da hora do rush.

Ao entrar na mansão, ele se deparou com cinco policiais, o Tenente Osvaldo e dois detetives da polícia civil. Eles estavam em volta de dois corpos que pairavam no chão. Era o casal Albuquerque. De repente, mais dois policiais apareceram com um homem negro, alto, de cabelos brancos, algemado.

O Tenente Osvaldo cumprimentou o jornalista e disse a ele que precisava de sua ajuda. José perguntou o que acontecera e o policial o informou de que aquele homem algemado havia matado o casal. O policial queria que José, junto aos detetives ajudassem a resolver o caso. Ele sabia que o assassino havia sido pago para matar as duas pessoas que estavam caídas no chão. A única coisa que o preso falara aos policiais era que ele estava atrás de uma foto.

José olhou para a enorme sala da mansão dos Albuquerque, aparentemente, tirando o casal morto no chão, não havia nada diferente. O senhor Estéfano, por sua vez, parecia um pouco distante de sua esposa, como se ele tivesse caminhado até ela e caído no chão. Ele viu algumas gotas de sangue que indicavam o caminho que ele percorrera e se deparou com um espelho que ficava no meio da sala. Havia uma pequena gota de sangue na parte de baixo. O jornalista ficou olhando por um tempo e falou a todos que desejava ir embora e que voltaria na manhã do dia seguinte.

O Tenente Osvaldo não entendeu, disse que precisava da ajuda de José neste caso. O jornalista disse que ele não era assim tão importante, que os detectives da polícia civil poderiam ajudar no caso. Ele alegou que retornaria à mansão na manhã do dia seguinte. Os policiais presentes disseram que ele era apenas mais um jornalista e que não faria falta. Mas o Tenente sabia da inteligência de José e que ele era a pessoa mais capacitada para achar a tal foto, e desvendar o caso. Era preciso saber o nome do mandante do assassinato e o preso não tiha nem idéia.

José saiu do Bairro Belvedere e foi em um Pub chamado Tiro ao alvo, que ficava na Savassi, região boêmia de Belo Horizonte. Ele conhecia o bartender e passou a noite tomando um Whisky e conversando com ele sobre o que aconteceu na mansão dos Albuquerque. O casal era bastante conhecido devido a algumas iniciativas e projetos que eles criavam com o intuito de preservar as florestas e matas que ficavam no entorno da cidade. Em casa, Jose já tinha na cabeça como seria o início do artigo que ele iria escrever sobre o assassinato.

No dia seguinte, José avisou o jornal de que estaria fora cobrindo a morte do conhecido casal. Ele pegou seu carro e foi direto para a mansão. Ao chegar ele se deparou com três policiais que guardavam a entrada. Ele pediu para deixarem ele passar e foi prontamente atendido. O jornalista viu que a cena do crime ainda estava intacta. Ele ligou para o Tenente Osvaldo que o informou que nem os policiais nem os detetives tiveram sucesso na procura pela foto. O corpo do casal Albuquerque não estava mais na sala. José foi até o espelho. Eram cerca de dez horas da manhã e a luz do sol batia nele. Com aquela luz o jornalista conseguiu ver acima da gota de sangue no espelho, algumas letras e números. De fato, ele estava contando com aquilo, já que vira em cima da mesa uma caneta com tinta liveink, que só pode ser vista com a luz do sol. 

Com a luz do sol, das dez horas da manhã, José conseguiu ver no espelho a seguinte mensagem: 2 - bola de futebol - bermuda - tesouro - 298753. O jornalista olhou para os lados e viu que estava sozinho na mansão. Os policiais estavam do lado de fora aguardando o retorno do Tenente Osvaldo. Ele ficou olhando a  mensagem no texto durante um bom tempo e decidiu subir as escadas indo para o andar de cima.

José encontrou no lugar quatro quartos dispostos, um do casal, dois de seus filhos e uma sala de televisão. O jornalista percorreu o corredor e entrou no quarto do filho do casal de 13 anos de idade, Antônio. Ele encontrou um lugar cheio de brinquedos, bonecos, quadros, uma cama, enfim, um quarto de criança. José então foi direto no armário do garoto, abriu a porta. Havia no espaço várias roupas, calças, blusas, bermudas e um pequeno terno que o menino deveria utilizar em festas da família.

José ficou olhando para o armário durante um bom tempo percorrendo o espaço com seus olhos. Até que ele encontrou no chão uma pequena caixa de madeira. Ele a pegou e a colocou em cima da cama do garoto. Ela era bastante pesada. José então viu que havia um cadeado que só poderia ser aberto com uma senha específica. Ele pensou por algum tempo e colocou em ordem alguns números. A caixa de madeira foi aberta. José viu um grande número de jóias dentro.Era por isso que a caixa de madeira estava pesada. Ele retirou os colares e brincos da caixa e viu que no fundo dela havia uma foto em preto e branco. 

O jornalista riu, ele achou o que os policiais e detetives tanto procuraram. José pegou a foto e desceu as escadas. Na mesma hora, o Tenente Osvaldo e os policiais civis entraram na mansão. Ele os cumprimentou e balançou a foto. Nela havia um homem esfaqueando uma mulher nos jardins de alguma casa de Belo Horizonte.

O Tenente Osvaldo olhou para José e riu. O homem na foto se chamava Márcio de Souza. Ele era um grande empresário dono de diversos loteamentos ao redor da cidade. O policial ligou os fatos na mesma hora, o casal Albuquerque deve ter investigado ele, já que os dois lutavam para defender as matas e florestas da cidade e acabaram presenciando um assassinato e tiraram uma foto. Por isso foram também mortos pelo empresário.

O Tenente Osvaldo entrou  em contato com seu batalhão e informou que o mandante do assassinato havia sido encontrado. Ele falou para  o jornalista que iria atrás do assassino, mas que antes queria saber como José havia encontrado a foto. José olhou para ele e o levou até o espelho que ficava na sala. Em uma mesa ao lado, havia uma caixa com algumas canetas. Ele as mostrou ao policial.

José disse ao tenente que aquilo era uma tinta invisível e apontou para ele o espelho, que naquela hora da manhã mostrava a mensagem 2 - bola de futebol - bermuda - tesouro - 298753. O policial disse que não havia entendido o que aquilo significava. José então disse que era um código. O número 2 significava o segundo andar da mansão, a bola de futebol, o quarto do filho do casal, a bermuda, o armário que ficava nesse quarto, o tesouro era uma caixa de madeira que ficava dentro dele.

O número 298753 era o código do cadeado da caixa de madeira. Ele então abriu e encontrou a foto do mandante do assassinato do casal Albuquerque. O Tenente Osvaldo sorriu para José, colocou suas mãos em seu ombro e disse que sabia que podia contar com o jornalista nessas horas. O Policial recebeu uma chamada em seu rádio para ir até a casa do assassino. Eles possuíam uma prova de seu envolvimento na morte do casal Albuquerque. O jornalista saiu junto com ele e foi direto ao jornal Folha de Minas Gerais, escrever a sua matéria.          

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